quarta-feira, 3 de maio de 2017

Etapa 311 - Recordação j) um dos contos da minha visavó Joaquina

      Vou percorrer a etapa de hoje no trilho da minha avó-visa, daquela grande mulher, que tendo seu marido emigrado no Brasil, sabendo pouco de como lhe corria a vida e não recebendo dele as ajudas que esperava, cá, sozinha, foi capaz de criar os filhos. Que eu saiba, eram 4, a minha avó Blandina, o meu tio-avó José Maria (Zé Maria do Carcagido), e outros 2, um homem António  e uma senhora que não sei seu nome. Estes 2 últimos, depois de criados, o pai chamou-os para o Brasil. A prova de que já eram criados, é que o António, antes de ir, já era padrinho de Baptismo do 2º filho da minha avó, ( do António) que por volta dos seus 30 anos de idade, também emigrou para o Brasil, chamado pelo padrinho e todos por lá ficaram.

       Pois é: há escritos (contos e lendas) de grande valia e muita beleza, há também livros que são a delícia de quem os lê, mas aqueles contos ou lendas que os avozinhos (analfabetos) contavam, eram contos e  histórias de encantar. Esses contos ou lendas transitavam de gerações para gerações, deixando sempre transparecer, e parecia que era uma demonstração da verdade, que a todos comovia e deliciava. Era a minha visa já velhinha, e eu criança, fazia-lhe companhia, ela dava-me carinho, não sabia ler mas contava-me contos ou lendas que os antigos transportavam e iam transmitindo aos mais novos. Para não ser maçador, conto só uma, aquela que ela, ao contar-ma, não evitava que algumas lágrimas lhe banhassem o rosto enrugado, mas muito lindo, e dizia: 
 
      "Uma vez, no tempo em que havia muitas guerras, os homens eram levados para a guerra, (olha; como aconteceu ao Pai Luís), uns morriam por lá e muitos outros, mesmo que não morressem, nunca mais regressavam. Aconteceu cá, na nossa terra, um homem que já era casado e que era pai de uma menina, teve que ir para a guerra, para um país estrangeiro, mas muito, muito longe, aquela guerra acabou, mas aquele homem nunca mais voltava, passaram-se anos, toda a gente pensava que ele tinha morrido por lá.
 
      A mulher, cá, supondo-se que era uma senhora viúva, resolveu refazer a sua vida e voltou a casar com outro homem. A menina cresceu e já era mulherzinha quando apareceu naquela casa um mendigo muito debilitado e doente a pedir esmola àquela família. O mendigo reconheceu a mulher e a filha, mas viu tanta felicidade que não teve coragem para dizer quem era. Disse que vinha de muito longe, que não tinha terra nem conhecia ali ninguém, que não tinha para onde ir e pediu que lhe dessem alguma coisa para comer e que o deixassem lá dormir e que, se no dia seguinte o não quisessem como trabalhador, se ia embora sem ter qualquer destino. A rapariga simpatizou com aquele mendigo e pediu à sua mãe e ao padrasto que deixassem lá ficar o pobrezinho, que lhe dessem comida e dormida e quando ele tiver mais saúde e forças, se quiser, que se vá embora. E assim foi, o pobrezinho ficou, era um homem muito educado e respeitador, aceitaram-no como serviçal e, embora sempre doente e debilitado, ali viveu em comunhão com aquela família o resto da sua vida. Foram poucos anos, porque a sua doença agravou-se e morreu.

      Estava morto, a rapariga, a sua mãe e o padrasto, querendo fazer-lhe um funeral digno, foram preparar o corpo  vesti-lo, ao verificar no alforge os seus poucos haveres, a senhora encontrou o retrato de um militar e um terço que ela tinha dado ao marido quando ele foi para a guerra, surpreendida com aquele achado, olhou mais atentamente para aquele corpo que estava à sua frente, procurou sinais que sabia que o marido tinha e a onde,  disse; Homem! este é o meu marido! filha! este é o teu pai! e todos choraram". Pois é, choraram, imagine-se com que vontade e com que sentimento. As alegrias, as angustias e as dores dão para isso. É chorando que se alivia a alma e o amor é mesmo assim. Quem ama verdadeiramente não prejudica a felicidade do outro, mesmo que para isso tenha que sofrer.

      O santo de hoje é: São Filipe e São Tiago, Apóstolos e Mártires
      ( + séc. I) "São Filipe era natural de Betsaida, e deixou esposa e filhos para seguir a Nosso Senhor. Sofreu o martírio na Ásia Menor. São Tiago, chamado o Menor,  era primo de Nosso Senhor e foi o primeiro bispo de Jerusalém, cidade na qual recebeu a graça do martírio.

      Oração; - Ó Senhor, por intercessão e méritos dos apóstolos Filipe e Tiago, eu vos peço a graça do desassombro no núncio e testemunho do Santo Evangelho. Abençoai-me e concedei-me os dons que me são necessários para que eu possa cumprir com minha missão evangelizadora na minha família, no trabalho e na sociedade. Amém. São Filipe e São Tiago, rogai por nós. Maria, Rainha dos Apóstolos, rogai.


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