sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Etapa nº. 68, - Após a exlosão;

      Regressado ao ponto do final do percurso de ontem, aqui estou para dar início a nova etapa, retomando o tema, que embora seja sensível, para mim já é passado e não me causa qualquer problema.

    Após o pumumum, sei que fiquei caído de bruços e imobilizado, senti que algum fogo ou algo muito quente me estava a queimar na barriga, pus a mão para me proteger, foi a mão esquerda, entre o meu corpo e o cimento do piso. 
 
      Ouvia muita algazarra, muito zum-zum mas nada que se percebesse. Os homens que ali estavam, os menos atingidos fugiram do local, ficaram por ali os feridos de muita gravidade e os mortos. Passado curto espaço de tempo, começam a chegar pessoas alertadas pela explosão, e à mistura, chegam também familiares dos acidentados. Todos querem saber dos seus, e o que podem fazer por eles, querem saber quantos são os feridos, quantos são os mortos, e quem foi que morreu. 
 
      Eu, o meu nome fazia parte do mencionado número de 3 mortos, do lado de fora ouviam se gritos de quem chegava, esposas e outros familiares de quem ali estava ou que ali esteve, quando o caso de deparava mais grave, impediam as pessoas de entrar. 
 
      Naqueles momentos de angústia, e enquanto estive consciente, eu ia pensando: eu não morri, nem posso morrer, tenho a minha mulher e duas meninas, uma com 4 e outra com 3 anos, eu não morro, elas precisam de mim, os Bombeiros vêm-me buscar e hei-de ser o pai que elas precisam, não estou preparado para as deixar.
 
      Lembro-me de terem chegado os bombeiros, mas os feridos eram tantos e aqueles que se podiam movimentar, pelos seus próprios meios, subiam para a ambulância, eu e os mortos, ia-mos ficando para o resto. Com a perda de sangue, eu fui adormecendo aos bocados. 
 
     Se calhar, eu dormia quando um HOMEM, Manuel Paiva dos Santos Branco, (contou-me e porque ainda é vivo, repete e volta a contar), entrou naquele recinto, foi ver os mortos e quem eram, foi ver quem era um que estava coberto com parte de um lençol, viu que era eu, e que eu, abri os olhos e olhei para ele. Ele pôs um casaco debaixo da minha cabeça e correu à rua, para ver se ali estava alguém que me transporta-se para o hospital, não estava ninguém que o pode-se fazer, tinha mesmo que esperar que o carro dos bombeiros volta-se, regressou ao pé de mim, e já alguém me tinha voltado a cobrir, porra, o homem não está morto, descobriu-me, não me abandonou mais, quando chegou o carro dos bombeiros ele exigiu que me carregassem, mas eles não o queriam fazer, porque para eles, eu estava morto, e foi ele, quem chamou outro homem para o ajudar, e desobedecendo aos bombeiros, colocou-me na ambulância, que de seguida arrancou comigo.
 
     Com os balanços da ambulância em andamento, ao passar junto à Camor, (fábrica de refrigerantes) o piso era irregular, e ai, eu tomei consciência de que já ia para o hospital, a minha prece tinha sido atendida, eu ia sobreviver, a minha mulher não ia ficar viúva, e as minhas meninas iam continuar a ter pai, um pai feliz a vê-las crescer.

     O santo de hoje é: São Guilherme, Bispo e Confessor
      ( + Dinamarca, 1070) "Sensibilizado pela situação de abandono em que viviam os pagãos dinamarqueses, dedicou-se a evangelizá-los. Foi Bispo de Roskilde.
 
      Oração: Ó mestre, fazei-me que procure mais consolar, que ser consolado., compreender que ser compreendido, amar que ser amado. Pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado, e morrendo que se vive para a vida eterna. Amém.   

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