Mais uma recordação da vida dos mais desfavorecidos na minha linda Nespereira. Era eu um garoto (esclareço, um jovem, com apenas 14 anos) andava no monte, monte que denominava-mos, monte detrás da serra, a roçar,mato, numa área de terreno a mato, que o meu avô Luís lá possuía. Esse monte, que tinha acesso pela Estrada Nacional nº. 225, logo após a passagem do Nicho, numa saída para a esquerda, por um caminho bastante bom, monte esse que se situava a cerca de 100 metros da estrada. Como disse, eu andava a roçar mato, mato que ia juntando em paveias, (Feixes ou mutenas), para no dia seguinte, eu mais o meu avô, irmos lá com a carro das vacas, carregar e trazer para a Granja.
Ocupado com os meus afazeres para roçar o suficiente para carregar o carro, tinha que completar 48 paveias duplas, ou seja, 48 porções de mato, só, quando lá do alto ouvi um alarido, é que eu olhei e vi, lá no cimo do monte duas mulheres e um homem, e ele, com um pau a tentar correr com elas dali., a impedir que elas pegassem os molhos. Vi também que entre o homem e as mulheres, estavam dois montes de lenha ou de mato. As mulheres quando podiam aliviar a guarda olhavam em minha direcção, elas sabiam quem eu era, mas não teriam muita esperança, porque eu, era apenas um garoto. Mas eu, perante o que vi não me fiz rogado, interrompi o meu trabalho, sachola da roça ao ombro, e toca de correr monte acima.
Aquele homem, quando me viu caminhar para eles, tornou-se mais agressivo, mas elas, confintes na minha determinação, tiveram coragem e ânimo suficiente para lhe fazerem frente, empunhando cada uma o seu podão. Quando eu já estava relativamente perto, o homem abandonou o local e desapareceu para o outro lado da encosta.
Também eu, à medida que me fui aproximando, conheci uma das senhoras, era a minha tia Emília, a irmã do meu pai, a outra sua companheira, não me era estranha, mas nunca soube o seu nome, os molhos que já tinham prontos e amarrados eram de carqueja, produto que elas recolhiam nos montes, e forneciam às suas clientes da Feira e dos arredores. Seria para elas, naquele tempo, o único meio de angariar alguma coisa para o seu sustento e da família. Sei que no caso da minha tia Emília, em casa, era ela, e tinha 3 filhos pequenos a pedir-lhe pão todos os dias. Era uma senhora casada, o marido andava por locais incertos, trabalhava por casas e quintas de lavradores, por onde se ia sustentando, muito raramente ia a casa, os filhos eram 5, e à data, os dois mais velhos já andavam a servir.
Recordo que a minha tia, perante a sua companheira, ficou muito orgulhosa do sobrinho e as duas cobriram-me e elogios, ajudei as senhoras a porem os molhos à cabeça, e elas saíram dali cada uma com o seu molho, e eu, regressei todo vaidoso aos meus afazeres e, com tão boa disposição, que até o trabalho me correu melhor.
Reconheço e quero registar para memória, que os 5 filhos da minha tia, logo que se puderam organizar, proporcionaram aos pais as melhores condições de vida possível, constituíram famílias, organizaram-se, mandaram vir os pais para junto deles e agruparam-se de maneira a viverem todos próximos e na mesma localidade. Parabéns aos meus primos, Alice, Manuel, Celeste, Orlando e Luís.
O santo de hoje é: São Cornélio e São Cipriano, Mártires
( + séc III) "São Cornélio condenou os erros dos hereges novacianos, que promoveram um cisma na Igreja e procuraram depô-lo. Nesse emergência, foi apoiado e encorajado por São Cipriano, Bispo de Cartago (norte de África). São Cornélio, foi martirizado durante a perseguição d Galiano, no ano 252, e São Cipriano, que tinha sido professor de retórica e era célebre como pregador, sofreu o martírio em 258. Ambos aparecem juntos no Cânon tradicional da Missa".
Oração a São Cornélio: Deus eterno e todo-poderoso, quiseste que São Cornélio governasse todo o vosso povo servindo-o pela palavra e pelo exemplo. Guardai por suas preces, os pastores da vossa Igreja e as ovelhas a eles confiadas, guiai-os no caminho da salvação.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
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