sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Etapa nº. 82, Tia Emília às carquejas

      Mais uma recordação da vida dos mais desfavorecidos na minha linda Nespereira. Era eu um garoto (esclareço, um jovem, com apenas 14 anos) andava no monte, monte que denominava-mos, monte detrás da serra, a roçar,mato, numa área de terreno a mato, que o meu avô Luís lá possuía. Esse monte, que tinha acesso pela Estrada Nacional nº. 225, logo após a passagem do Nicho, numa saída para a esquerda, por um caminho bastante bom, monte esse que se situava a cerca de 100 metros da estrada. Como disse, eu andava a roçar mato, mato que ia  juntando em paveias, (Feixes ou mutenas), para no dia seguinte, eu mais o meu avô, irmos lá com a carro das vacas, carregar e trazer para a Granja.  

      Ocupado com os meus afazeres para roçar o suficiente para carregar o carro, tinha que completar 48 paveias duplas, ou seja, 48 porções de mato, só, quando lá do alto ouvi um alarido, é que eu olhei e vi, lá no cimo do monte duas mulheres e um homem, e ele, com um pau a tentar correr com elas dali., a impedir que elas pegassem os molhos. Vi também que entre o homem e as mulheres, estavam dois montes de lenha ou de mato. As mulheres quando podiam aliviar a guarda olhavam em minha direcção, elas sabiam quem eu era, mas não teriam muita esperança, porque eu, era apenas um garoto. Mas eu, perante  o que vi não me fiz rogado, interrompi o meu trabalho, sachola da roça ao ombro, e toca de correr monte acima.

      Aquele homem, quando me viu caminhar para eles, tornou-se mais agressivo, mas elas, confintes na minha determinação, tiveram coragem e ânimo suficiente para lhe fazerem frente, empunhando cada uma o seu podão. Quando eu já estava relativamente perto, o homem abandonou o local e desapareceu para o outro lado da encosta.

      Também eu, à medida que me fui aproximando, conheci uma das senhoras, era a minha tia Emília, a irmã do meu pai, a outra sua companheira, não me era estranha, mas nunca soube o seu nome, os molhos que já tinham prontos e amarrados eram de carqueja, produto que elas recolhiam nos montes, e forneciam às suas clientes da Feira e dos arredores. Seria para elas, naquele tempo, o único meio de angariar alguma coisa para o seu sustento e da família. Sei que no caso da minha tia Emília, em casa, era ela, e tinha 3 filhos pequenos a pedir-lhe pão todos os dias. Era uma senhora casada, o marido andava por locais incertos, trabalhava por casas  e quintas de lavradores, por onde se ia sustentando, muito raramente ia a casa, os filhos eram 5, e à data, os dois mais velhos já andavam a servir.

      Recordo que a minha tia, perante a sua companheira, ficou muito orgulhosa do sobrinho e as duas cobriram-me e elogios, ajudei as senhoras a porem os molhos à cabeça, e elas saíram dali cada uma com o seu molho, e eu, regressei todo vaidoso aos meus afazeres e, com tão boa disposição, que até o trabalho me correu melhor. 

      Reconheço e quero registar para memória, que os 5 filhos da minha tia, logo que se puderam organizar, proporcionaram aos pais as melhores condições de vida possível, constituíram famílias,  organizaram-se, mandaram vir os pais para junto deles e agruparam-se de maneira a viverem todos próximos e na mesma localidade. Parabéns aos meus primos, Alice, Manuel, Celeste, Orlando e Luís.

      O santo de hoje é: São Cornélio e São Cipriano, Mártires
      ( + séc III) "São Cornélio condenou os erros dos hereges novacianos, que promoveram um cisma na Igreja e procuraram depô-lo. Nesse emergência, foi apoiado e encorajado por São Cipriano, Bispo de Cartago (norte de África). São Cornélio, foi martirizado durante a perseguição d Galiano, no ano 252, e São Cipriano, que tinha sido professor de retórica e era célebre como pregador, sofreu o martírio em 258. Ambos aparecem juntos no Cânon tradicional da Missa".

      Oração a São Cornélio: Deus eterno e todo-poderoso, quiseste que São Cornélio governasse todo o vosso povo servindo-o pela palavra e pelo exemplo. Guardai por suas preces, os pastores da vossa Igreja e as ovelhas a eles confiadas, guiai-os no caminho da salvação.
      Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

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