terça-feira, 20 de setembro de 2016

Etapa nº. 86, O Buticário

      Nos primeiros meses do ano de 1944, meus avós eram caseiros e habitavam a casa da Quinta dos Amarais, na Granja - Nespereira, e lá, nesse mesmo ano, morreram dois irmãos meus, um com 5 anos e o outro com 2 anos, morreram, um num dia e o outro no dia seguinte. O senhor Abade resolveu que no mesmo funeral se juntassem os dois corpos. Nesse mesmo ano, um mês depois da morte dos meus irmãos, morreu a minha tia Ana, esta com a doença do Tifo.
 
      Naquele tempo, Nespereira, e talvez até, como o País no seu todo, os profissionais de saúde, em especial, os de medicina, eram escassos, Nespereira até estava muito bem servida, era o dr. de Moimenta, (penso que era, Dr. Noronha), um incansável, que não distinguia ricos de pobres, e calcorreava por qualquer caminho distribuindo amor, alivio e esperança de vida aos doentes.
 
      Na farmácia da Feira havia o Buticário, um homem incansável, muito dedicado e conhecedor das matérias e artigos a que lhe era possível recorrer. Lembro-me, porque acompanhei minha avó, quando ele socorreu uma menina, minha prima, tendo  esta caiu de uma cerejeira e traumatizou a cabeça. Aquele buticário, (farmacêutico), poderei dizer que operou aquela menina, extraiu-lhe o sangue pisado, suturou o ferimento, tratou como soube e pode, mandou a menina para casa, recomendou que estivessem constantemente a porem-lhe água fria, da fonte do Souto, na cabeça. Sei que cumpriram as instruções do buticário, a rapariguinha sarou, fez-se mulher, e para minha alegria, porque foi a minha avó quem lhe acudiu, ainda vive. O nome desse senhor buticário, embora eu o tenha na ideia, não o divulgo, primeiro porque poderei estar enganado e segundo, porque haverá em Nespereira pessoas do mesmo ramo familiar, que podem não gostar do que eu, recordo e desejo partilhar. Peço pois descultas, mas digo:

      Este senhor Buticário, em determinado ano, deixou a farmácia, não sei porque motivo ou causa. Era um homem bom e porque era bom, quando deixou a farmácia e se ausentou de Nespereira, deixou por Nespereira muitos créditos por receber, certo dia, ao anoitecer, meu avô andava a tratar do gado, a dar-lhes e ceia, tal como fazia todos os dias Nesse dia, apercebeu-se e ouviu que, no caminho, entre as casas do Zé Maria, do Ti Firmino e o portão do quinteiro da quinta, ele, o meu avô,  ouvia o sapateado de um cavalo, e uma voz de homem em luto com alguém. Meu avô saiu pelo portão e viu no caminho, um cavalo e um cavaleiro numa luta de teimosia, e que o cavaleiro, segurando as rédeas com uma mão, com a outra, sacudia algo que meu avô  não via. Meu avô conseguiu pôr a mão no cavalo e nesse momento o animal sossegou, o cavaleiro apeou-se. O meu avô conheceu-o, socorreu-o lá em casa, e o homem, o buticário, conseguiu contar ao meu avô o que andava a fazer, a onde queria ir ali na granja, bem como o que lhe tinha acontecido. Disse-lhe que tinha vindo a Nespereira para ver se fazia algumas cobranças. À Granja, ia a casa de um senhor, (que por acaso eu lhe chamava, e continuei a chamar-lhe tio), e, que junto à fonte do Reguengo, foi assaltado por algo, que ali se juntou a ele, em cima do cavalo, que lutaram até se aproximarem da Capela da Granja, e que, próximo da Capela,  isso, (ou o que fosse), que lhe disse: aqui vences-me, mas espero-te mais à frente, e assim foi, passada a Capela, a mesma coisa juntou-se-lhe em cima do cavalo e, o resultado era aquela luta a que meu avô assistiu. Mas meu avô, disse lá em casa, que só viu um cavalo teimoso e um cavaleiro a dar bofetada em algo que não era nada. Para meu avô, se aquilo não era loucura, o que poderia ser? Nessa noite, meu avô acompanhou e Buticário a casa desse seu amigo, (meu tio), lá na Granja, o buticário passou ali a noite e meu avô, no dia seguinte já não o encontrou, ele terá seguido o seu destino.

      Posteriormente, e quando os factos o justificavam, meu avô repetia estes episódios e ouvi ele dizer que, um dia, que foi ao Porto, entro num bar para petiscar alguma coisa e que o referido senhor entrou lá, que tinha uma viola na qual dedilhava algumas notas e próximo do meu avô entoava algumas palavras, dizendo; "eu conheço este senhor, eu conheço este senhor".

      O santro do dia de hoje é: Santos Eustáquio  Companheiros, Mártires
      ( + Roma, séc. I-II) "Segundo antiga tradição, nos tempos do imperador Trajano, em data não muito determinada, sofreram o martírio Santo Eustáquio, que tinha sido um dos mais prestigiosos e heroicos generais do Império, sua esposa Santa Teopista, e os dois filhos do casal, Santos Agapeto e Teopisto. Foram todos colocados dentro de uma estátua de metal com forma de touro, aquecida em brasa".

      Oração: Ó Deus! Cai a tarde, a noite aproxima-se, quem fez, fez. Também a nossa existência material é um dia que se passa, uma plantação que se faz, um caminho para algo superior. Como fizeste a manhã, a tarde e a noite, com seus encantos, fizeste também a mim, com os meus significados, meus resultados. Aproxima de mim, Pai, a tua paz para que usufrua desta hora e tome seguras decisões para amanhã. Que se ponha o sol da renovação e da paz para sempre.
      Obrigado, Deus, muito obrigado! . Amém.

Sem comentários:

Enviar um comentário